Música, Video, Rap, Kizomba, Zouk, Semba, Kuduro
Uma doença calou a voz rouca, firme e determinada de Oliver Mtukudzi, músico e guitarrista que há muito deixou de pertencer apenas ao povo zimbabwiano. A um ataque de diabete fulminante, Tuku, como também é conhecido, cedeu à morte ontem à tarde, segundo o jornal sul-africano The Sun, na Avenues Clinic, na cidade onde nasceu, Harare, capital do Zimbabwe. Aquela enfermidade vinha desgastando uma das grandes referências da arte shona há alguns meses. Nisso, Mtukudzi lutou até onde pôde, mesmo débil, e, sem o calor electrizante que várias vezes aqueceu o público moçambicano, aos 66 anos de idade partiu, deixando para traz um imenso espólio musical.
Além da música, Oliver Mtukudzi abraçou várias causas socias de carácter altruísta, como activista dos direitos humanos e embaixador da Boa Vontade da UNICEF para a Região da África Austral. Foi generoso, humilde e não media esforços para manter intercâmbios musicais com outros artistas. Aliás, Tuku gravou um tema com Stewart Sukuma, “Guardians of the light”, para o álbum Os sete pecados capitais do autor moçambicano. Com aquele tema publicado em disco em 2014, os dois artistas procuraram contribuir para aumentar a consciencialização sobre os direitos da criança. “Guardians of the light” mereceu um vídeo-clip que somou mais de 73 mil visualizações no YouTube. “Durante as gravações, o Oliver foi muito espontâneo e tudo decorreu de uma forma muito intuitiva e natural. É uma honra enorme ter a voz inconfundível do Oliver perpetuada numa música que me diz muito. Ficamos amigos e ligados para sempre”, garante Stewart Sukuma.
Por Roberto Chitsondzo, Oliver Mtukudzi é descrito como um músico que se preocupou pelo bem-estar das pessoas, não medindo esforços nesse sentido. Para o promotor de espectáculos Belmiro Quive, quem organizou o último concerto do artista zimbabwiano na cidade de Maputo, a 29 de Novembro de 2017, a morte de Tuku é uma perda física, pois tudo o que ele fez de melhor vai perdurar por longos anos.
Oliver Mtukudzi nasceu a 22 de Setembro de 1952. Começou a sua carreira nos anos 70, tendo criado o estilo Tuku Music, baptizado com o seu próprio nome. Desde então, apresentou-se mundialmente. É autor de vários álbuns, ao todo 67, como Ndipeiwo Zano (1978), África (1980), Shoko (1990), Neria (2001) ou Tsimba Itsoka (2007). Foi actor, homem interventivo, desertou, mas sempre com Zimbabwe no peito. Defendia a revitalização das línguas africanas com garras, e, com efeito, o shona sempre foi dos principais veículos de expressão. Uma das suas frases que fica aqui imortalizada é extraída no tema “Neria”: “Não deixe o seu coração amargurado”
STEWART SUKUMA
Músico
Estou deveras sentido com o desaparecimento de um colega, amigo e grande ser humano. O Oliver era um músico extraordinário e também um activista social de coração grande. Uma enorme perda para a cultura musical africana, mas igualmente uma figura que permanecerá para sempre presente através das obras que nos deixou. O Oliver era um músico do mundo, não só de África. Quando convidei o Oliver para participar no tema “Guardians of the light”, do meu álbum Sete pecados, a resposta positiva foi imediata.
ROBERTO CHITSONDZO
Músico
Conheci Oliver Mtukudzi em 1980. Na altura, fui a Pemba com um grupo de professores de Inhambane. Lá havia um grupo zimbabwiano que ele integrava. Mais tarde, começamos a ouvir Mtukudzi e participamos em festivais juntos. É uma perda grande para os zimbabwianos e para os fazedores da música africana. Ele era aquele levantava alto a bandeira do Zimbabwe. Perdemos como África Austral. Vinha cá frequentemente e não escolhia pessoas com quem cantar. Gostava de lutar pela saúde dos demais. A última vez que partilhamos palco foi no AZGO.
MOREIRA CHONGUIÇA
Saxofonista
Hoje é um dia triste, não só para o Zimbabwe, mas para África e para o mundo em geral. Tive o privilégio de ser amigo de Oliver Mtukudzi. Foi-me um grande mentor, um exemplo de persistência, consistência e sustentabilidade. A última vez que estive com ele foi há um ano, no funeral de Hugh Masekela. Ele tocou no Soweto. É grande perda. Estamos a ver músicos sábios a morrer, pessoas que contribuíram para a libertação de muitos movimentos africanos, que cantaram para o povo. É dia triste, grande perda. Por isso, é altura de repensar a cultura, temos de documentar informação sobre ele.
BELMIRO QUIVE
Promotor BDQ Concertos
A morte de Oliver Mtukudzi colhe-me de surpresa. Um artista muito querido em Moçambique e que tive o privilégio de promover naquela que foi a última aparição em Moçambique, a 29 de Novembro de 2017, quando trabalhei com ele no Standart Bank Acácias Jazz. É uma perda irreparável para a cultura africana, pois a sua música, voz e dança do Tuku, como carinhosamente chamávamos, jamais será ouvida ao vivo. No entanto, ele deixa um legado imensurável da sua vasta discografia que jamais será esquecida. Que Deus lhe dê o eterno descanso.
PAULO CHIBANGA
Promotor Festival AZGO
Para mim, a morte de Oliver Mtukudzi tem muitos significados. Como africano, amante da música, ele era das nossas maiores estrelas. A notícia da sua morte é triste para os nossos irmãos do Zimbabwe. Como artista tive oportunidade de partilhar palco com ele, em vários momentos. Uma vez participei no seu aniversário de 50 anos, no Zimbabwe, numa homenagem local. Lá estive com Stewart Sukuma. Ele foi um ser muito bondoso para todos e tinha trabalho social muito importante. Esta notícia veio como torrencial na nossa ideia de o homenagear. Estamos tristes.